quinta-feira, 2 de julho de 2009

Empata



Tenho um certo prazer em atrasar-te com mimos quando te tentas despachar rápido de manhã. Entre as calças e a blusa abraço-me a ti feito empecilho e tu

- Vá lá, deixa-me vestir!

mas não seguras um sorriso e o sorriso alimenta-me a malandrice

- Hoje vou ser eu a tua blusa, vais-me levar assim vestido

imitando no abraço a peça de roupa.

- Se eu me mantiver quietinho tenho a certeza que ninguém vai notar. Basta que de vez enquando me puxes uma alça ou me alises os vincos para disfarçar.

Agora ris, dás-me corda para embalar, mesmo que te contradigas em “vás” e “larga-me lás”.

- Promete só que não me pões nódoas que eu garanto-te aconchego no teu dia.

- Parvo! – e beijas-me!

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Actus contritionis #1

Fotografias de Nobuyoshi Araki, série "flowers-bondage"

Aparece assim na Wikipedia: "Pornografia é a representação, por quaisquer meios, de cenas ou objectos obscenos destinados a serem apresentados a um público e também expor práticas sexuais diversas, com o fim de instigar a líbido do observador."

Mesmo apresentado assim de forma tão concreta, a pornografia é um conceito muito subjectivo, logo à partida porque todos os conceitos envolvidos na sua definição são igualmente de fronteiras muito ténues e dados a múltiplas interpretações pessoais; O conceito de obscenidade, por exemplo, remete para a falta de decência, para o pudor, e estes para a dignidade e para o respeito de si mesmo e dos outros.

Eu que até me tenho como um gajo assim meio solto e descomplicado, que não se choca com facilidade, sempre achei curiosa a forma como alguns impõem estas divisórias e como algumas pequenas coisas, por vezes sem qualquer importância, metem logo uma beata mais incauta a benzer-se.

E nessa óptica, de colocar as devotas a rezar actos de contrição, resolvi expor aqui algumas dessas insignificâncias que tanto aprecio. A começar por este trecho lindo do Chico Buarque do seu livro Budapeste:

Fotografia de Nobuyoshi Araki

«Kriska se despiu inesperadamente, e eu nunca tinha visto corpo tão branco em minha vida. Era tão branca toda a sua pele que eu não saberia como pegá-la, onde instalar as minhas mãos. Branca, branca, branca, eu dizia, bela, bela, bela, era pobre o meu vocabulário. Depois de contemplá-la um tanto, desejei apenas roçar seus seios, seus pequenos mamilos rosados, mas eu ainda não tinha aprendido a pedir as coisas. Nem ousaria dar um passo sem o seu consentimento, sendo Kriska uma amante da disciplina. Nas primeiras aulas me fazia passar sede, porque eu falava água, água, água, sem acertar a prosódia. Os pães de abóbora, um dia trouxe à sala uma fornada deles, passou-os fumegantes sob o meu nariz e jogou tudo fora, porque eu não soube denominá-los. Mas antes de fixar e de pronunciar direito as palavras de um idioma, é claro que a gente já começa a distingui-las, capta seu sentido: mesa, café, telefone, distraída, amarelo, suspirar, espaguete à bolonhesa, janela, peteca, alegria, um, dois, três, nove, dez, música, vinho, vestido de algodão, cócegas, maluco, e um dia descobri que Kriska gostava de ser beijada no cangote. Aí ela tirou pela cabeça o vestido tipo maria-mijona, não tinha nada por baixo, e fiquei desnorteado com tamanha brancura. Por um segundo imaginei que ela não fosse uma mulher para se tocar aqui ou ali, mas que me desafiasse a tocar de uma só vez a pele inteira. Até receei que naquele segundo ela dissesse: me possui, me faz o amor, me come, me fode, me estraçalha, como será que as húngaras dizem essas coisas? Mas ela ficou quieta, o olhar perdido, não sei se comovida pelo meu olhar passeando no seu corpo, ou pelo meu falar pausado no idioma dela, branca, bela, bela, branca, branca, bela, branca. E eu também me comovia, sabendo que em breve conheceria suas intimidades e, com igual ou maior volúpia, o nome delas.»

terça-feira, 14 de abril de 2009

Doce Balanço

Do outro lado da duna senti soprar uma voz; redonda, fina, docinha como uma maçã, a trautear sílabas no mesmo ritmo do balanço da cortina de armérias e estorno que nos separavam.

Foto de Rita Lino (?)

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Sonhos fáceis que o corpo satisfeito nos faz chegar

"Dalí a la edad de seis años, cuando creía que era una niña, levantando la piel del agua para ver un perro dormido a la sonbra del Mar", Salvador Dalí


Com a maior das delicadezas fecho a porta atrás de mim. Não a quero acordar, incomodar-lhe o desmaio a que se rendeu ou os sonhos fáceis que o corpo satisfeito lhe faz chegar. Deslizo para fora do quarto em surdina e encerro ali o aroma a sexo que ainda paira no ar.

Começo a gostar desta casa, a dos seus pais, ou dela própria, porque foi cá que cresceu, já não lhe vejo só paredes e móveis e livros esquecidos nas estantes.

Já me contam, os pormenores, que o tempo lhe passou por cima.

A carpete, pisada, íntima, cansada, já me confessa como antes abafou pés descalços de meninas em corrida. Que houve ali um pai que chamou e infâncias que como as outras se desenharam em passos apressados.

Recados esquecidos (?), espalhados num acaso que só a realidade consegue reproduzir, mantêm presente o rigor de outrora de uma mãe carinhosa. Há livros marcados e tacos soltos, cheiro a despensa e torneiras a pingar, já não é só paredes… mas, agora, que vou às cegas no corredor à procura do interruptor da casa de banho, era o que me convinha. Com o rabo nu, perseguido pela ponta húmida do focinho da cadela curiosa, apresso-me contra a mobília e derrubo as molduras das fotografias antigas de família. Aos apalpões, encontro finalmente o botão que procuro, enxoto a bicha, carinhoso, e refugio-me dela fechando a porta.

De mãos apoiadas na bancada do lavatório respiro para o espelho. Olho-me nos olhos e tento-me situar naquela realidade emprestada. Mantenho o olhar fixo (e por necessidade o respirar), desafio-o, questiono-lhe a integridade e vejo se por algum momento desvia o olhar – não desvia, sacana, assume mesmo que tudo isto lhe é uma possibilidade!

Ao lado do lavatório repousa um pequeno galho cortado com uma flor meio murcha na ponta. Reconheço-o! Há duas ou três semanas atrás, enquanto esperava por ela, num dia em que lhe sabia terem as coisas corrido mal, quebrei-o de um arbusto na rua para lho oferecer.

sexta-feira, 27 de março de 2009

Tango da primeira experiência de amor!



Era repentino o puxar que nos esquivava para lá do olhar dos candeeiros, uma incógnita irrelevante a mão que arrastava – a tua, a minha? – ou o amor cego que embrenhava o outro sob o escuro, também cego, dos ramos da figueira.

Em passos de dança aflitos, na urgência de nos termos, quebravam-se galhos e o silêncio no ajeitar de pernas e corpos. A Lua espreitava, curiosa, reanimando involuntariamente as sombras das folhas e dos figos maduros, prestes a rebentar, perfumados, que suspensos nos braços da figueira lhe atraiçoavam a percepção. Era o ombro a ser beijado? A mama gulosa a soltar-se-te do vestido amarfanhado? O peito meu ou teu a percutir desgovernado?

Depois subias em mim… todo eu tronco de árvore, toda tu perfume, prestes a rebentar... e eu, deslumbrado, a chamar-te um figo!

quinta-feira, 12 de março de 2009

Provocação Cristalizada



Connosco as palavras sempre foram como cerejas e porque nos rendíamos à vontade de conservar o gosto doce na boca era nos sempre difícil pôr termo a uma conversa.

Nessa noite já se fazia tarde e de quando em vez, de forma retórica, dizias que te tinhas de ir deitar, que te tinhas de levantar cedo no dia seguinte, da mesma forma, também eu te respondia que não te queria prender, que me ia já-já embora, mas no atropelo de cada despedida surgia sempre mais qualquer assunto para te aprisionar, para te deixar enlevar na doçura de mais uma frase.

A custo lá conseguimos impor um ponto final, foste para o teu quarto e eu voltei para o pé dos nossos amigos com quem partilhavas a casa.

Agora já não te atiravas a mim, já não me provocavas como dantes, quando eu tinha namorada e tu eras descomprometida. Agora eras tu quem tinha arranjado rapaz, que te iludias nas suas maneiras delicadas, nos jantares pagos em restaurantes de luxo e nos passeios de fim de semana no seu jipe despesista.

Mas não amavas! Não sentias fulgor quando ele te olhava, nem fome quando o tocavas, não lhe passavas a mão pelo cabelo, nem lho puxavas possuída... Só gostavas dele. Muito possivelmente era a relação que te convinha - sem paixão mantinhas-te serena. A meu ver, era apenas uma serenidade bacoca, uma relação muda e desprovida do sabor doce das cerejas, sem vocábulos e termos que te exaltassem pelos dias.

A mim contavas-me essas coisas. Entre nós havia sempre uma confissão, uma ideia ou preocupação para contar, uma arrelia, história de sexo ou romance para a troca. Nada mais se passava, , era assim que nos relacionávamos, eu mexia contigo e tu comigo, aliás, na minha cabeça, mesmo agora, ainda me ecoava um dos teus argumentos finais da nossa conversa de há bocado, um daqueles a que não te quis responder para ires descansar.

Num impulso, não me contendo, talvez por querer ser eu a ditar a última palavra, voltei para trás.

Bati à porta e não respondeste, chamei o teu nome e ainda assim nada. Tinham passado não mais do que dois, três minutos, e tinha a certeza que não estarias já a dormir. Entreabri a porta repetindo o teu nome, perguntando se podia entrar. Na cama fingias dormir, penso até que ainda te vi apagar a luz.

Não sei o que me fez entrar, certamente não foi pelo que te tinha a dizer, que não tinha qualquer importância. Acho que simplesmente te achei piada, a ti e à forma como me evitavas a mim e a mais conversa. Deves ter pensado que, vendo-te deitada, eu daria meia volta, mas eu fiz exactamente o contrário.

Estavas de barriga para baixo e de cara virada para o lado contrário ao daquele de onde eu entrava. Tapava-te só um lençol, que te cobrindo o corpo ainda assim o revelava ondulando à mercê das tuas curvas. Aproximei-me e sentei-me no espaço que ainda sobrava ao teu lado na cama.

Toquei-te ao de leve e insisti no teu nome, mas tu optaste pelo silêncio. Quase me levantei para sair do teu quarto, mas aquela proximidade, aquela situação, criou-me demasiado peso nas pernas, e foi então que vi abrir a minha mão sobre as tuas costas! Podia jurar que não era eu que lhe dava voz de comando, eu apenas olhava... perplexo com a minha ousadia!

Sentindo-te o calor tomei consciência que aquele era de facto o meu gesto. Era aquela a minha mão que desenhava lentamente o teu dorso, segredando-me, ao longo do percurso que tomava, o quanto eras quente, quanto media a consistência do teu corpo e o quanto te sentia vibrar debaixo da pele.

Percorri-te de forma ligeira e mão aberta com a ponta dos meus cinco dedos até à curva do fundo das tuas costas, a que das mulheres sempre mais fascínio me produz. Assentei depois com maior firmeza e contacto e segui apreciando com deleite a subida até ao cimo do teu rabo. Não te manifestaste, permaneceste sossegada, apenas a respirar. Sempre achei que o teu rabo era o mais bonito que alguma vez tinha visto, agora sabia também que era o mais agradável ao toque.

Antes de me levantar, ainda deixei que a mão me seguisse o dedo médio até ele te tocar entre as pernas, comprovando que era falsa a tua imobilidade, que era falso o teu silêncio, que com aquele simples contacto te tinha encharcado o corpo.

Ainda hoje não entendo por inteiro este episódio, não percebo o que me levou a tocar-te e muito menos à reacção de te deixar depois de o fazer. Talvez tenha sido para me sentir vingado das tuas penosas provocações, mas muito mais provavelmente para manter cristalizada a delícia das nossas palavras.

terça-feira, 10 de março de 2009

Cem Mimos


Eu não sei dar mimos,
nem nos meus braços
se cria o conforto
de um abraço.

Não sei deixar leves os dedos,
nem acertar-lhes o peso
para sem atrito
se passearem na pele.

Sou incerto no toque
pouco firme de mãos.

E será fortuito,
obra do acaso,
se um sopro se assomar
ao limiar dos teus cabelos
e se a pele, aí,
te arrepiar.
Será apenas por estar tão perto,
será apenas um respirar.

Porque como já disse,
eu não sei mimar!


Pintura de Audrey Kawasaki

domingo, 8 de março de 2009

Deixar acontecer


Brooklyn NY 1965 - Bruce Davidson

Quando morrermos, e estivermos de partida para onde quer que se vá, acho que ainda iremos ter a oportunidade de olhar por cima do ombro e rever à distância os momentos que mais nos marcaram. E defronte desse destilar de vida, se ainda nos comovermos, iremos chorar pelas melhores recordações em terra.

Penso que nessa altura ficará comprovado que o mais importante foi não nos termos evitado à vida e ter deixado acontecer.

quinta-feira, 5 de março de 2009

... o melhor para o homem II

Nas teclas que sobram do meu computador, após violenta discussão ganha por ele, tento ainda reproduzir o post que ele me mandou para o galheiro após pelo menos uma hora de escrita.
Na certeza que não vou conseguir repor o que estava, na vontade de mandar tudo e todos pró caralho (onde é que eu foi que eu li isto) e cerrando os dentes, cá vai:

Ia responder aos comentários do post anterior, mas achei que teria mais lógica fazê-lo no formato de novo texto. Pelo que segue:




Imagino que para a mais comum das mulheres, a ideia de ser prostituta não seja a mais agradavelzinha. Tanto que, mesmo havendo motivos de força maior a colocar essa ofício enquanto opção - a dependência de drogas, alguma situação drástica de finanças ou até de miséria - não são todas que a vão de imediato abraçar.

Para algumas, as funções inerentes ao cargo, até podem alimentar fantasias. Mas qualquer ideia romântica que possa advir dos prazeres granjeados, da aventura, da variedade de parceiros, da atenção recolhida, facilmente se pode destruir pela prática real da coisa - o prazer pode estar ausente, a variedade aplicar-se unicamente a todo o tipo de homens desinteressantes, feios, porcos e maus, a atenção ser pouca, nenhuma, ou fixar-se unicamente num qualquer atributo físico, e o risco de apanhar doenças, de se ser violentada, abusada ou violada torna-se real.

Mas por vezes a coisa pode correr bem... Se não a Maria Porto não tinha escrito o seu livro.

Isto a propósito do episódio da espuma de barbear.

Ainda não tinha dito, mas nós éramos poucos e o motivo, que também só agora refiro, foi a de uma despedida de solteiro. A organização atempada não será o traço que melhor caracteriza o meu grupo de amigos. A espontaneidade, o impulso e o improviso, sim. E à nossa maneira, meio em cima do joelho, lá se organizou a festa.

Recordemos o cenário:

Alguns correm atrás de uma das meninas, ou vice-versa, dando-lhe ou levando nalgadas, por entre tropeços, risos e gritinhos histéricos.

A outra, estendida de costas sobre a mesa, com o corpo coberto de espuma, vê-o agora ser espalhado no corpo a 3 mãos, rindo-se, contorcendo-se, esticando os braços para trás e semicerrando os olhos de prazer. Também ela nos apalpa e nos puxa as mãos para onde mais lhe dá proveito. Num jogo de vingança e sedução tem particular gozo em nos atacar com espuma, e acaba por se apoderar da lata. De repente, já todos escorregamos e rolamos no chão em cima delas e elas em cima de nós, cobertos de branco, no amasso mais completamente obsceno, indecoroso, e na mesma medida, delicioso - mesmo sem chantilly.

O resto não conto! Fica para vos estimular a imaginação, que isto está a sair muito fraquinho perante o que antes tinha escrito.

Mas foi divertido, tanto que, não vislumbrando num futuro próximo eventual noivo no nosso grupo de amigos, ainda falamos em fazer outra festa destas, e à falta de causa, nem que se celebre novamente os 500 anos dos descobrimentos.

Mas deixo aqui a questão. Já se imaginaram a prostituir? Ou já o fizeram? Ou era de graça e na boa que alinhavam numa festividade do género? ;)

quarta-feira, 4 de março de 2009

... o melhor para o homem

Só ele, distraído como é, não deu conta. Porque a questão, na altura, levantou risos e comentários entre todos.

Mas por que raios é que à falta de chantilly se lembram de comprar espuma de barbear? Está bem, porque é branco e parecido. Mas não era a nossa intenção primordial, para além da aplicação tópica, a apreciação táctil de língua e a satisfação gulosa do paladar?

Fosse como fosse, com chantilly ou espuma de barbear, o nosso cesto de compras deve ter reunido um dos arranjos mais surreais que chegaram aos olhos da menina da caixa. A bebida, a muita bebida, tinha algum protagonismo, tanto no cesto de compras como na nossa disposição, que já ía bem regada para o supermercado. Fossem assim todos os clientes e ser caixa de supermercado seria tudo menos um trabalho monótono. Mas aquela, ao que nos pareceu, não estava habituada a tanta simpatia e meio confusa acabou por não aceitar o nosso convite para a festa. Ou isso, ou ao contrário do Nuno, ouviu falar do propósito do chantilly - que afinal acabava por ser espuma de barbear.

A toda esta nota introdutória segue a história, em flashforward, ao momento da noite que tornam pertinentes as informações até aqui avançadas. Pulam-se assim alguns pormenores escabrosos e evitam-se outros tantos que poderiam levar a alguma confusão, preconceito e escandalizar os demais.

Éramos poucos, recebêmo-las com sinceridade, cordialmente e sem abusos. Servimos-lhes champagne, contámos-lhes umas piadas com piada e elas, rapidamente, puseram-se à vontade. Perceberam que podiam ter domínio sobre a situação.

A atenção do Nuno perde-se no essencial, mas não nos pormenores e quando demos conta estava ele a substituir as lâmpadas do quarto por outras coloridas. Pouco depois, já atestávamos da qualidade da ideia pelo excelente efeito de cores que se projectava no corpo mulato que serpenteava à nossa frente.

De repente alguém se lembrou e foi buscar a lata. Pediu delicadamente à menina para se deitar na mesa da sala e espalhou-lhe, generosamente, o branco na sua pele escura.

Para nosso espanto, o Nuno, afoito, levantou-se e de olhar travesso, num instante, já abocanhava a mama da criatura.

Houve um momento em que tudo ficou calado, todos incrédulos... até a menina! Silêncio. Todos de olhos incrivelmente abertos perante tanta alarvidade e estupidez, acima de tudo os do próprio Nuno, que de boca cheia de espuma Gillete Series ainda balbuciou um óbvio:

- Isto não é Chantilly!

Se havia alguma inibição, ela foi derrubada naquele preciso momento. Todos nos partimos a rir!

E o deboche e a luxúria seguiram noite dentro, com particular divertimento, e encerrando muita história e momentos para um dia contar... não propriamnete aos netos, mas quem sabe num blog!

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Procura-se Patrocínio

De vez em quando venho aqui tomar o pequeno-almoço. A dona trata-me por "tu" e faz-me sempre grandes sorrisos. Mesmo antes de eu lhe pedir adianta-se-me na empada e no café. Ou tem boa memória, ou sou eu que pela manhã tenho apetites monótonos. Também lhe sorrio e agradeço.

Costumo ficar na primeira mesa, que é a que recebe o sol pela manhã, mas hoje está ocupada. Aliás, estão todas as do lado soalheiro, para me sentar só mesmo lá ao fundo, no escuro.

- Hoje fico de castigo - digo-lhe. Ela ri-se, demasiado, deixa-me na dúvida se percebeu.

Na mesa livre repousa o Correio da Manhã do dia anterior. Não gosto do Correio de Manhã, mas um dos títulos sensacionalistas da capa faz-me abri-lo. Engodo fácil para o meu gosto pelo bizarro, três linhas lidas e já percebo que me levaram no exagero da manchete. Não tendo sol para me entreter os olhos, folheio mais umas páginas até os ver prender nos anúncios de putas dos classificados.

Espreito para lá do meu canto sombrio, a confirmar que ninguém me observa, assumo falsa naturalidade e analiso aquelas páginas.

Uma vez, em miúdo, telefonei para um daqueles números. Éramos três ou quatro amigos, alternadamente, cada um, telefonou para o seu. Não tínhamos qualquer intenção de contratar serviços, mas fingíamos ter, perguntámos preços, ao que teríamos direito, pedimos para elas se descreverem, aonde atendiam, se iam ao domicílio e depois desligávamos - como disse, era miúdo. E aquilo, tal como quase tudo na altura, excitava-nos. Falar com elas, era de certa forma, como roçar a mão naquela realidade. Sentir que de facto existiam mulheres assim disponíveis para sexo.

Em Benfica há muitas putas, reparo, já morei em Benfica e na altura não dei conta. Gostava de ter forma de saber, de haver forma de conhecer a história oculta das pessoas com quem me cruzo. Será que existem notas a denunciar essa existência encoberta por detrás da normalidade? Olho à volta, mas nenhuma das mulheres presentes as parecem revelar. Talvez seja do sol, que assim a tocar-lhes na cara lhes dá um ar inocente.

A minha relação com putas é quase singular, digamos que se esgota num par de histórias de despedidas de solteiro ou numa ou noutra entrada ao engano num qualquer "puti-clube". Não deu para conhecê-las, para lhes fazer perguntas, para saber porquê, para quê, como... Imagino que é preciso colhões, para além de saber agarrar por eles.

Eu tenho muita curiosidade, tanta, que me alimenta o devaneio de também eu ingressar no meio. Como gigolô, claro. E só não deixo aqui o número porque tenho medo que me telefonem. Porque eu sei que o gostava mesmo de fazer, porque nestas coisas de cama o que mais me cativa é mesmo a variedade, o desvendar de sensações por detrás de uma mama assim, de um rabo assado, de umas costas compridas, de uns ombros largos, de um corpo pequenino, de uma boca fina ou de lábios grosso, de um corpo redondo ou de outro imperfeito.

Dou conta que por entre as centenas de anúncios de mulheres só aparece um de um homem, mais exactamente de um homem desinibido e sem tabús a oferecer-se a mulheres. Ainda é ofício de pouca concorrência - conclúo - se as coisas correrem mal com o trabalho, se a vida me virar as costas, já sei... apalpo-lhe o cu.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

A brincar, a brincar...

Neste dia 14 sejam escandalosos. Vão ter com elas e se possível à frente dos pais ofereçam-lhe o presente, quando elas estiverem mesmo prestes a abrir a caixinha segredem-lhe um "cuidado que vibra".

A ideia que tenho é que a maior parte dos gajos são muito quadrados no que toca a oferecer ou simplesmente a lidar com o facto das namoradas poderem ter vibradores.
Quando calha a falarmos no assunto chega-me até a parecer que muitos têm ciúmes desses apetrechos e vários são os que nessas ocasiões enchem o peito para cantar de galo que "que namorada deles não precisam cá dessas merdas".
Outros, mais razoavelzinhos, lá (se) vão expondo que "vá, tudo bem, desde que não seja nenhum de dimensões superiores" aos seus, não fiquem elas mal habituadas.

Eu confesso que, no que toca a sexo, gosto das coisas simples e sem grandes artifícios. O que mais me catalisa é a espontaneidade, a energia da entrega, a vontade expressa de forma incontida. E agrada-me quando uma mulher está à vontade consigo e com o seu próprio corpo. A confiança é per si erótica e pode resultar bem melhor que quaisquer implantes de silicone.

Praticamente inevitável na cama é também o humor. Convenhamos que a ideia de sexo já por si é uma ideia cómica e eu cá acho que há poucas terapias melhores do que umas boas gargalhadas no meio dos lençóis e, a meu ver, uma abordagem lúdica do sexo pode ser bem mais sincera do que qualquer outra mais grave e sisuda.

Porque há quem seja muito sério nestas coisas, e que por entre estrofes de uma Céline Dion, prévia e estratégicamente seleccionadas para soarem como banda sonora à coisa, imponha uma toada romântica, de olhares fatais e gestos etéreos. Para mim de sério já me chega o trabalho e a esses imagino-os desde logo a quebrar a pose com algum arfar bizarro, ou com uma tirada infeliz que se quis eterna, mas não perdurou mais do que o tempo que se demorou a cometer... qualquer coisa com "anjos caídos do céu", "amor" a rimar com "calor" ou ainda um infausto e calamitoso "és muita linda"!

É, portanto, sem qualquer contradição com a simplicidade que antes citei, que me vejo a empregar e a desfrutar de brinquedos na cama. Se ainda nunca pensaram nisso, deixo-vos aqui algumas sugestões:

Não lhe comprem brincos, pulseiras nem broches, se querem gastar dinheiro comprem-lhe um destes em ouro de 18 quilates que elas vão apreciar muito mais e na volta quem leva um broche em resposta são vocês.


YVA, massajador clitorial em aço ou ouro.

Se quiserem ser mais actuais e tecnológicos comprem-lhe este discreto "batôm" vibrador com carregamento USB para ela ter sempre à mão:

MIA, batôm-vibrador

Mas mesmo mais à "mão", cof, cof, poderão estar sempre estas esferas. Para além do prazer proporcionado elas podem igualmente servir enquanto sistema de fitness para os músculos circum vaginais e pélvicos. Será sensato recomendá-lo a todas as mulheres que tenham alguma dificuldade em obter orgasmos pela estimulação destas zonas.


Luna Beads, sistema de esferas.

Divirtam-se!

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

¡Hola!


Boden Sea, Uttwil, 1993, fotografia de Hiroshi Sugimoto

Marrocos, 6:20 da manhã.

Foi em passos felídeos e no maior dos silêncios que a vi atravessar a sala até à janela. Não sei o que me fez abrir os olhos ou o que me terá despertado naquele preciso momento, porque não houve qualquer ruído na sua passada ligeira, e o seu pisar ao de leve quase sugeria estar a galgar aquele espaço sem sequer tocar no chão. Mas acordei, e com a mesma serenidade, vi-a depois colocar-se em contra-luz e ficar assim imóvel, a beber da paisagem marítima que só daquela divisão da casa se podia usufruir.

Com inesperado deleite, lia-lhe agora a silhueta, e percorri de olhos vagarosos o seu contorno demarcado pela primeira luz do dia. Ela estava apenas de cuecas!

Acabado de acordar, ainda só me eram acessíveis os raciocínios mais simples e eu, na dúvida de ainda estar a sonhar, pensava o quanto ficavam bem as mulheres só de cuecas. As mamas tapava-as com as mãos, assim como elas o fazem de braços cruzados, a mão direita com a mama esquerda e a mão esquerda com a mama direita. E eu, básico, pensava também que gostava muito de mamas!

Simultaneamente emocionou-me e excitou-me o momento.

Com a adição dos tais raciocínios simples, os únicos que me estavam acessíveis, tentei entender o que me era oferecido tal qual idílica composição fotográfica. Uma mulher defronte a uma janela com vista para o mar; Uma mulher de cuecas e mamas ocultas nas mãos, defronte à minha janela marroquina sobre um mar magrebino; A beleza em forma de uma mulher quase desconhecida e que só de cuecas se resguardava ocultando as mamas nas mãos, defronte a um mar misterioso que a minha janela magrebina me oferecia na minha primeira viajem a Marrocos; Uma espanhola com quem partilhava a casa, quase nua, só de cuecas, a irromper na sala onde eu dormia segurando um belo par de mamas com as suas próprias mãos, aparecia misteriosa em contra-luz e contra-mar-desconhecido.

Silêncio. Cuecas e mamas que desejava ser eu a tocar.

Porque o tempo parou, não saberei precisar a duração de todo aquele período em que ambos estivemos a encher o olhar.

Entretanto, senti-a inspirar fundo a paisagem, virou-se e caminhou em sentido contrário para a porta da sala, tomando agora o percurso em que inevitavelmente se cruzaria por mim, agora de frente, agora desperto, agora para cruzarmos o olhar.

Se eu tivesse ficado de olhos fechados ela poderia ter passado supondo-se bem sucedida naquela sua incursão que por curiosidade ou necessidade não conseguiu evitar. Mas eu, petrificado, não os fechei, e à sua passagem só me restou fazer o sorriso mais suave de que dispunha, levantar ligeiramente a mão e lançar-lhe quase em surdina um:

- ¡Hola!

Ela, visivelmente embaraçada, retribuiu o cumprimento e, de forma automática, também o gesto, levantando uma das mãos e mostrando o que até ali tinha tão bem conseguido esconder. Saiu, mas eu fiquei com clara noção que mais do que ter exposto o seu corpo, o que a envergonhou foi ter exposto a sua intimidade, sensibilidade e paixão pelo mar!

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

A Inocência em Technicolor

Ela era, literalmente, 'a menina da porta ao lado', éramos vizinhos e ela ainda uma menina. Não me recordo que idade teríamos na altura, talvez uns 11 ou 12 anos, penso, e fomos, imagine-se, jogar sozinhos ao 'bate-pé' lá para a sua casa.

Já não me recordo muito bem por que regras se coze o jogo, mas em abono da verdade também pouco ligávamos a esses pormenores. Depois de descobrir o potencial daquela brincadeira passámos semanas no seu exercício, mas a nossa experiência e tenra idade conferia-nos arrojo equivalente e, invariavelmente, não íamos muito para além de uns beijinhos, de nos mostrarmos, ou de nos deixarmos tocar mutuamente.

Do quarto onde tudo se desenrolava já só me lembro dos pequenos detalhes, do mesclado pardo da alcatifa onde por vezes nos ajoelhávamos, do sorriso dela num seu retrato pintado a pastel a pender sobre a cama, da cor de mel do mobiliário e da cadeira forrada a napa preta, onde ela, sentada, de pernas abertas, me mostrava o mundo num misto de provocação e expectativa. E depois havia a luz que inundava naquelas tardes o quarto dela, uma luz intensa e meio opaca, que saturava as cores à nossa volta, como se figurássemos numa daquelas fotografias antigas a cores reveladas num processo Technicolor.



Será que a luz com que pinto aquelas tardes existiria verdadeiramente? Ou será apenas um artifício do meu inconsciente a distorcer-me a memória sublimando a luz imprimida pela inocência dos momentos! Sim, porque éramos apenas duas crianças a articular a sua candura e curiosidade pela magia que afinal o nosso corpo carregava.

Houve um dia, no entanto, em que em plena laboração lúdica, fomos apanhados pela empregada que trabalhava lá na sua casa. Ela de saia subida, eu de pila de fora! A mulher gritava connosco como se estivesse ofendida, e que contava ao pai dela, e que se não tínhamos vergonha. Eu tive, tanto que fugi literalmente daquele quarto que de repente se fez sombrio e, durante uma semana, sempre que batiam à porta lá de casa apertava-se-me o coração a pensar que era desta que o seu pai me vinha pedir explicações.