sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Procura-se Patrocínio

De vez em quando venho aqui tomar o pequeno-almoço. A dona trata-me por "tu" e faz-me sempre grandes sorrisos. Mesmo antes de eu lhe pedir adianta-se-me na empada e no café. Ou tem boa memória, ou sou eu que pela manhã tenho apetites monótonos. Também lhe sorrio e agradeço.

Costumo ficar na primeira mesa, que é a que recebe o sol pela manhã, mas hoje está ocupada. Aliás, estão todas as do lado soalheiro, para me sentar só mesmo lá ao fundo, no escuro.

- Hoje fico de castigo - digo-lhe. Ela ri-se, demasiado, deixa-me na dúvida se percebeu.

Na mesa livre repousa o Correio da Manhã do dia anterior. Não gosto do Correio de Manhã, mas um dos títulos sensacionalistas da capa faz-me abri-lo. Engodo fácil para o meu gosto pelo bizarro, três linhas lidas e já percebo que me levaram no exagero da manchete. Não tendo sol para me entreter os olhos, folheio mais umas páginas até os ver prender nos anúncios de putas dos classificados.

Espreito para lá do meu canto sombrio, a confirmar que ninguém me observa, assumo falsa naturalidade e analiso aquelas páginas.

Uma vez, em miúdo, telefonei para um daqueles números. Éramos três ou quatro amigos, alternadamente, cada um, telefonou para o seu. Não tínhamos qualquer intenção de contratar serviços, mas fingíamos ter, perguntámos preços, ao que teríamos direito, pedimos para elas se descreverem, aonde atendiam, se iam ao domicílio e depois desligávamos - como disse, era miúdo. E aquilo, tal como quase tudo na altura, excitava-nos. Falar com elas, era de certa forma, como roçar a mão naquela realidade. Sentir que de facto existiam mulheres assim disponíveis para sexo.

Em Benfica há muitas putas, reparo, já morei em Benfica e na altura não dei conta. Gostava de ter forma de saber, de haver forma de conhecer a história oculta das pessoas com quem me cruzo. Será que existem notas a denunciar essa existência encoberta por detrás da normalidade? Olho à volta, mas nenhuma das mulheres presentes as parecem revelar. Talvez seja do sol, que assim a tocar-lhes na cara lhes dá um ar inocente.

A minha relação com putas é quase singular, digamos que se esgota num par de histórias de despedidas de solteiro ou numa ou noutra entrada ao engano num qualquer "puti-clube". Não deu para conhecê-las, para lhes fazer perguntas, para saber porquê, para quê, como... Imagino que é preciso colhões, para além de saber agarrar por eles.

Eu tenho muita curiosidade, tanta, que me alimenta o devaneio de também eu ingressar no meio. Como gigolô, claro. E só não deixo aqui o número porque tenho medo que me telefonem. Porque eu sei que o gostava mesmo de fazer, porque nestas coisas de cama o que mais me cativa é mesmo a variedade, o desvendar de sensações por detrás de uma mama assim, de um rabo assado, de umas costas compridas, de uns ombros largos, de um corpo pequenino, de uma boca fina ou de lábios grosso, de um corpo redondo ou de outro imperfeito.

Dou conta que por entre as centenas de anúncios de mulheres só aparece um de um homem, mais exactamente de um homem desinibido e sem tabús a oferecer-se a mulheres. Ainda é ofício de pouca concorrência - conclúo - se as coisas correrem mal com o trabalho, se a vida me virar as costas, já sei... apalpo-lhe o cu.

9 comentários:

Anónimo disse...

Opá, tu é que sabes bem fazer frente à crise, pa!
Olha, aproveita então a falta de concorrência, miúdo...

;P

Mas vais ter que colocar aqui teu número para fazer negócio!

amantesmaria disse...

Pelo sim pelo não, tou a dar no duro no ginásio...

... Homem malhado é meio caminho andado, lol.

Anónimo disse...

Sim, sim...
Isso é mesmo!

Depois pões foto, certo?

amantesmaria disse...

Ó pá, não há mulher espanhola que não me ponha sem jeito. E eu, intimidado, só me dá para a comédia, o pior é que nesse estado n digo nada acertado.

Imagina que a resposta que me veio à cabeça foi que eu mostrava a minha se tu mostrasses a tua... esta nem na primária!

Beijinho

Anónimo disse...

Ah, mas a minha eu já mostro a toda a gente....no blog!

ahahahaha

Realmente, tens com cada uma...

Mostras a tua?

amantesmaria disse...

A lançar o serviço seria de facto pertinente mostrar uma fotografia.

Se bem que há tempos atrás, numa reportagem que vi acerca de gigolôs e na qual eles contavam como é que as coisas funcionavam, a abordagem que me pareceu mais acertada era a de um rapaz que encetava o encontro com um café e uma conversa.

Seria nesse rendez-vous que ambos decidiriam se a coisa iria para a frente, onde ambos, frontalmente, diriam se o outro faria o seu género e a cliente esclareceria quais as suas expectativas.

A imagem, no propósito da simples satisfação sexual, terá um peso considerável, mas, a meu ver, não será de todo fundamental, dado que para se cumprir haverão um cem números de factores de índole pessoal que estarão completamente à margem do físico do parceiro: a energia, os gestos mais ou menos meigos, a envolvência, o toque, a leitura do corpo que se toma, a confiança gerada...

Mesmo agora confirmei e a minha conta bancária ainda me dá alternativa, não que fosse um castigo, mas por enquanto vou manter esse projecto adiado. ;)

Anónimo disse...

Não posso concordar mais contigo...
Realmente, o físico é apenas o instrumento que usamos para atingir o prazer.
E o prazer, está no nosso cérebro.

Não é assim?

amantesmaria disse...

A minha resposta à tua pergunta não será cabal nem inquestionável. Mas acho q sim!

A mim, o que mais me fulmina é a energia com que a outra pessoa se me entrega, há uns quantos possíveis registos que entram em reverberação com a minha.

Mas n sou indiferente à imagem, estaria a mentir se dissesse que sim. E há umas quantas que me motivam - ou excitam, vá - quase instantaneamente.

Por outro lado também existem personalidades que me tocam de igual maneira. E digo-o assim no plural, porque plurais tb são os géneros que me provocam. Desde a mulher assanhada e provocante à menos óbvia, terna e delicada - "como uma onda musical se propaga sobre as águas calmas"*.

Como tu disseste, o cérebro é quem mana, é quem cria a sugestão!


* esta li ontem do Jack London.

Anónimo disse...

Então estamos, sim, em concordância, pois eu apenas disse que o físico está ao serviço da química.
Mas não anulo, com isto, a impotância da atracção...que começa no olhar...
Sendo que depois virá a personalidade.
Realmente, há múltiplas personalidades e imagens que nos podem cativar, atrair ou seduzir.
O importante é deixarmo-nos levar sempre.