sexta-feira, 27 de março de 2009

Tango da primeira experiência de amor!



Era repentino o puxar que nos esquivava para lá do olhar dos candeeiros, uma incógnita irrelevante a mão que arrastava – a tua, a minha? – ou o amor cego que embrenhava o outro sob o escuro, também cego, dos ramos da figueira.

Em passos de dança aflitos, na urgência de nos termos, quebravam-se galhos e o silêncio no ajeitar de pernas e corpos. A Lua espreitava, curiosa, reanimando involuntariamente as sombras das folhas e dos figos maduros, prestes a rebentar, perfumados, que suspensos nos braços da figueira lhe atraiçoavam a percepção. Era o ombro a ser beijado? A mama gulosa a soltar-se-te do vestido amarfanhado? O peito meu ou teu a percutir desgovernado?

Depois subias em mim… todo eu tronco de árvore, toda tu perfume, prestes a rebentar... e eu, deslumbrado, a chamar-te um figo!

quinta-feira, 12 de março de 2009

Provocação Cristalizada



Connosco as palavras sempre foram como cerejas e porque nos rendíamos à vontade de conservar o gosto doce na boca era nos sempre difícil pôr termo a uma conversa.

Nessa noite já se fazia tarde e de quando em vez, de forma retórica, dizias que te tinhas de ir deitar, que te tinhas de levantar cedo no dia seguinte, da mesma forma, também eu te respondia que não te queria prender, que me ia já-já embora, mas no atropelo de cada despedida surgia sempre mais qualquer assunto para te aprisionar, para te deixar enlevar na doçura de mais uma frase.

A custo lá conseguimos impor um ponto final, foste para o teu quarto e eu voltei para o pé dos nossos amigos com quem partilhavas a casa.

Agora já não te atiravas a mim, já não me provocavas como dantes, quando eu tinha namorada e tu eras descomprometida. Agora eras tu quem tinha arranjado rapaz, que te iludias nas suas maneiras delicadas, nos jantares pagos em restaurantes de luxo e nos passeios de fim de semana no seu jipe despesista.

Mas não amavas! Não sentias fulgor quando ele te olhava, nem fome quando o tocavas, não lhe passavas a mão pelo cabelo, nem lho puxavas possuída... Só gostavas dele. Muito possivelmente era a relação que te convinha - sem paixão mantinhas-te serena. A meu ver, era apenas uma serenidade bacoca, uma relação muda e desprovida do sabor doce das cerejas, sem vocábulos e termos que te exaltassem pelos dias.

A mim contavas-me essas coisas. Entre nós havia sempre uma confissão, uma ideia ou preocupação para contar, uma arrelia, história de sexo ou romance para a troca. Nada mais se passava, , era assim que nos relacionávamos, eu mexia contigo e tu comigo, aliás, na minha cabeça, mesmo agora, ainda me ecoava um dos teus argumentos finais da nossa conversa de há bocado, um daqueles a que não te quis responder para ires descansar.

Num impulso, não me contendo, talvez por querer ser eu a ditar a última palavra, voltei para trás.

Bati à porta e não respondeste, chamei o teu nome e ainda assim nada. Tinham passado não mais do que dois, três minutos, e tinha a certeza que não estarias já a dormir. Entreabri a porta repetindo o teu nome, perguntando se podia entrar. Na cama fingias dormir, penso até que ainda te vi apagar a luz.

Não sei o que me fez entrar, certamente não foi pelo que te tinha a dizer, que não tinha qualquer importância. Acho que simplesmente te achei piada, a ti e à forma como me evitavas a mim e a mais conversa. Deves ter pensado que, vendo-te deitada, eu daria meia volta, mas eu fiz exactamente o contrário.

Estavas de barriga para baixo e de cara virada para o lado contrário ao daquele de onde eu entrava. Tapava-te só um lençol, que te cobrindo o corpo ainda assim o revelava ondulando à mercê das tuas curvas. Aproximei-me e sentei-me no espaço que ainda sobrava ao teu lado na cama.

Toquei-te ao de leve e insisti no teu nome, mas tu optaste pelo silêncio. Quase me levantei para sair do teu quarto, mas aquela proximidade, aquela situação, criou-me demasiado peso nas pernas, e foi então que vi abrir a minha mão sobre as tuas costas! Podia jurar que não era eu que lhe dava voz de comando, eu apenas olhava... perplexo com a minha ousadia!

Sentindo-te o calor tomei consciência que aquele era de facto o meu gesto. Era aquela a minha mão que desenhava lentamente o teu dorso, segredando-me, ao longo do percurso que tomava, o quanto eras quente, quanto media a consistência do teu corpo e o quanto te sentia vibrar debaixo da pele.

Percorri-te de forma ligeira e mão aberta com a ponta dos meus cinco dedos até à curva do fundo das tuas costas, a que das mulheres sempre mais fascínio me produz. Assentei depois com maior firmeza e contacto e segui apreciando com deleite a subida até ao cimo do teu rabo. Não te manifestaste, permaneceste sossegada, apenas a respirar. Sempre achei que o teu rabo era o mais bonito que alguma vez tinha visto, agora sabia também que era o mais agradável ao toque.

Antes de me levantar, ainda deixei que a mão me seguisse o dedo médio até ele te tocar entre as pernas, comprovando que era falsa a tua imobilidade, que era falso o teu silêncio, que com aquele simples contacto te tinha encharcado o corpo.

Ainda hoje não entendo por inteiro este episódio, não percebo o que me levou a tocar-te e muito menos à reacção de te deixar depois de o fazer. Talvez tenha sido para me sentir vingado das tuas penosas provocações, mas muito mais provavelmente para manter cristalizada a delícia das nossas palavras.

terça-feira, 10 de março de 2009

Cem Mimos


Eu não sei dar mimos,
nem nos meus braços
se cria o conforto
de um abraço.

Não sei deixar leves os dedos,
nem acertar-lhes o peso
para sem atrito
se passearem na pele.

Sou incerto no toque
pouco firme de mãos.

E será fortuito,
obra do acaso,
se um sopro se assomar
ao limiar dos teus cabelos
e se a pele, aí,
te arrepiar.
Será apenas por estar tão perto,
será apenas um respirar.

Porque como já disse,
eu não sei mimar!


Pintura de Audrey Kawasaki

domingo, 8 de março de 2009

Deixar acontecer


Brooklyn NY 1965 - Bruce Davidson

Quando morrermos, e estivermos de partida para onde quer que se vá, acho que ainda iremos ter a oportunidade de olhar por cima do ombro e rever à distância os momentos que mais nos marcaram. E defronte desse destilar de vida, se ainda nos comovermos, iremos chorar pelas melhores recordações em terra.

Penso que nessa altura ficará comprovado que o mais importante foi não nos termos evitado à vida e ter deixado acontecer.

quinta-feira, 5 de março de 2009

... o melhor para o homem II

Nas teclas que sobram do meu computador, após violenta discussão ganha por ele, tento ainda reproduzir o post que ele me mandou para o galheiro após pelo menos uma hora de escrita.
Na certeza que não vou conseguir repor o que estava, na vontade de mandar tudo e todos pró caralho (onde é que eu foi que eu li isto) e cerrando os dentes, cá vai:

Ia responder aos comentários do post anterior, mas achei que teria mais lógica fazê-lo no formato de novo texto. Pelo que segue:




Imagino que para a mais comum das mulheres, a ideia de ser prostituta não seja a mais agradavelzinha. Tanto que, mesmo havendo motivos de força maior a colocar essa ofício enquanto opção - a dependência de drogas, alguma situação drástica de finanças ou até de miséria - não são todas que a vão de imediato abraçar.

Para algumas, as funções inerentes ao cargo, até podem alimentar fantasias. Mas qualquer ideia romântica que possa advir dos prazeres granjeados, da aventura, da variedade de parceiros, da atenção recolhida, facilmente se pode destruir pela prática real da coisa - o prazer pode estar ausente, a variedade aplicar-se unicamente a todo o tipo de homens desinteressantes, feios, porcos e maus, a atenção ser pouca, nenhuma, ou fixar-se unicamente num qualquer atributo físico, e o risco de apanhar doenças, de se ser violentada, abusada ou violada torna-se real.

Mas por vezes a coisa pode correr bem... Se não a Maria Porto não tinha escrito o seu livro.

Isto a propósito do episódio da espuma de barbear.

Ainda não tinha dito, mas nós éramos poucos e o motivo, que também só agora refiro, foi a de uma despedida de solteiro. A organização atempada não será o traço que melhor caracteriza o meu grupo de amigos. A espontaneidade, o impulso e o improviso, sim. E à nossa maneira, meio em cima do joelho, lá se organizou a festa.

Recordemos o cenário:

Alguns correm atrás de uma das meninas, ou vice-versa, dando-lhe ou levando nalgadas, por entre tropeços, risos e gritinhos histéricos.

A outra, estendida de costas sobre a mesa, com o corpo coberto de espuma, vê-o agora ser espalhado no corpo a 3 mãos, rindo-se, contorcendo-se, esticando os braços para trás e semicerrando os olhos de prazer. Também ela nos apalpa e nos puxa as mãos para onde mais lhe dá proveito. Num jogo de vingança e sedução tem particular gozo em nos atacar com espuma, e acaba por se apoderar da lata. De repente, já todos escorregamos e rolamos no chão em cima delas e elas em cima de nós, cobertos de branco, no amasso mais completamente obsceno, indecoroso, e na mesma medida, delicioso - mesmo sem chantilly.

O resto não conto! Fica para vos estimular a imaginação, que isto está a sair muito fraquinho perante o que antes tinha escrito.

Mas foi divertido, tanto que, não vislumbrando num futuro próximo eventual noivo no nosso grupo de amigos, ainda falamos em fazer outra festa destas, e à falta de causa, nem que se celebre novamente os 500 anos dos descobrimentos.

Mas deixo aqui a questão. Já se imaginaram a prostituir? Ou já o fizeram? Ou era de graça e na boa que alinhavam numa festividade do género? ;)

quarta-feira, 4 de março de 2009

... o melhor para o homem

Só ele, distraído como é, não deu conta. Porque a questão, na altura, levantou risos e comentários entre todos.

Mas por que raios é que à falta de chantilly se lembram de comprar espuma de barbear? Está bem, porque é branco e parecido. Mas não era a nossa intenção primordial, para além da aplicação tópica, a apreciação táctil de língua e a satisfação gulosa do paladar?

Fosse como fosse, com chantilly ou espuma de barbear, o nosso cesto de compras deve ter reunido um dos arranjos mais surreais que chegaram aos olhos da menina da caixa. A bebida, a muita bebida, tinha algum protagonismo, tanto no cesto de compras como na nossa disposição, que já ía bem regada para o supermercado. Fossem assim todos os clientes e ser caixa de supermercado seria tudo menos um trabalho monótono. Mas aquela, ao que nos pareceu, não estava habituada a tanta simpatia e meio confusa acabou por não aceitar o nosso convite para a festa. Ou isso, ou ao contrário do Nuno, ouviu falar do propósito do chantilly - que afinal acabava por ser espuma de barbear.

A toda esta nota introdutória segue a história, em flashforward, ao momento da noite que tornam pertinentes as informações até aqui avançadas. Pulam-se assim alguns pormenores escabrosos e evitam-se outros tantos que poderiam levar a alguma confusão, preconceito e escandalizar os demais.

Éramos poucos, recebêmo-las com sinceridade, cordialmente e sem abusos. Servimos-lhes champagne, contámos-lhes umas piadas com piada e elas, rapidamente, puseram-se à vontade. Perceberam que podiam ter domínio sobre a situação.

A atenção do Nuno perde-se no essencial, mas não nos pormenores e quando demos conta estava ele a substituir as lâmpadas do quarto por outras coloridas. Pouco depois, já atestávamos da qualidade da ideia pelo excelente efeito de cores que se projectava no corpo mulato que serpenteava à nossa frente.

De repente alguém se lembrou e foi buscar a lata. Pediu delicadamente à menina para se deitar na mesa da sala e espalhou-lhe, generosamente, o branco na sua pele escura.

Para nosso espanto, o Nuno, afoito, levantou-se e de olhar travesso, num instante, já abocanhava a mama da criatura.

Houve um momento em que tudo ficou calado, todos incrédulos... até a menina! Silêncio. Todos de olhos incrivelmente abertos perante tanta alarvidade e estupidez, acima de tudo os do próprio Nuno, que de boca cheia de espuma Gillete Series ainda balbuciou um óbvio:

- Isto não é Chantilly!

Se havia alguma inibição, ela foi derrubada naquele preciso momento. Todos nos partimos a rir!

E o deboche e a luxúria seguiram noite dentro, com particular divertimento, e encerrando muita história e momentos para um dia contar... não propriamnete aos netos, mas quem sabe num blog!