domingo, 8 de março de 2009

Deixar acontecer


Brooklyn NY 1965 - Bruce Davidson

Quando morrermos, e estivermos de partida para onde quer que se vá, acho que ainda iremos ter a oportunidade de olhar por cima do ombro e rever à distância os momentos que mais nos marcaram. E defronte desse destilar de vida, se ainda nos comovermos, iremos chorar pelas melhores recordações em terra.

Penso que nessa altura ficará comprovado que o mais importante foi não nos termos evitado à vida e ter deixado acontecer.

12 comentários:

Patrícia Villar disse...

Bem...sem dúvida! E quantas vezes evitamos?!?! Talvez vezes demais...

Gostei.

Anónimo disse...

Tenho medo...terror até, de chegar a esse momento, e pensar que houve um fiozinho de vida que deixei sem viver.

Não imaginas o medo...

amantesmaria disse...

Esta não será propriamente uma verdade incontestável, no fundo é apenas a minha opinião!

De uma forma geral temos medo de abrir portas, assusta-nos o desconhecido, o que podemos encontrar ou ver ausente.

Mas se ousarmos...

... tudo poderá correr bem...

... tudo poderá correr mal...

... e no mínimo teremos uma corrente de ar a arejar a nossa vida!

Anónimo disse...

Ai...que tens razão.

Ai, que eu é que tenho sempre tanto medo...

Ai...

amantesmaria disse...

"Tens um "ai" encravado na boca
Que dia após dia te sufoca"

Jorge Palma

Anónimo disse...

Tenho um "ai" que me trava os pés...um "ai" que me olha frio e me assusta.
Tenho um "ai" que não devia morar em mim...
Um dia vai embora!


Um dia destes...

Anónimo disse...

Concordo até um ponto.
Porque há danos irreparáveis. É um conceito interessante, este, e um conceito que muito poucas pessoas consideram. Tantas vezes ouvimos falar de indemnizações por danos causados que ficamos com a impressão que tudo se pode reparar, é só uma questão de custos.
O dano irreparável é algo que não dá para mudar. É um instante depois, quando nos apercebemos que não dá para voltar atrás na linha do tempo, que por muito que vejamos que fizémos uma burrada de todo o tamanho já não dá, o momento passou, e não há nada a fazer.
Eu desejava muito fazer uma ou duas coisas, mas tenho medo de causar danos irreparáveis a outras duas ou três que tenho como preciosas demais. Coisas pelas quais eu dava a minha vida, sem ser no sentido literal. No sentido literal, entretanto, vou-a dando todos os dias naquilo que gostava de fazer e não faço. Escolhi aqueles 3. E assumo a minha escolha todos os dias da minha vida. Sacrifico-me por ela até onde o destino me pedir. E se nunca chegar a fazer as duas ou três coisas que gostava, foi porque assim escolhi. Eu. Livremente. Porque assim quis.
Porque para mim, o que levamos da vida não é o que vivemos, é o que amámos, e eu amo tanto, tanto, que por vezes quase que acho impossível viver assim a amar tanto sem rebentar.

Marycarmen

Maria disse...

Ouvi dizer que nós só morremos quando a última pessoa que nos conheceu morrer também...de modo que convém que quem cá fique a perpetuar-nos considere, que os nossos momentos bons, não sejam os seus maus momentos...

beijinho

amantesmaria disse...

O meu discurso deixou de facto o espaço para outras questões serem levantadas e discutidas, faltam-lhe as palavras que o tornem inequívoco e não duvidoso.

O meu "deixar acontecer" talvez precise do seu parênteses para se tornar claro.

MaryCarmen / Who Am I:

Deixem acontecer (mas evitem os danos colaterais)

A minha ideia tinha simplesmente a ver com os passos que constantemente hesitamos dar e com o queixume recorrente a que nos entregamos.

beijinhos

amantesmaria disse...

Marycarmen

"...e eu amo tanto, tanto, que por vezes quase que acho impossível viver assim a amar tanto sem rebentar."

Hoje estou num modo de funcionamento em que relaciono tudo com tudo, espero não forçar a semelhança, mas ao ler o que escreveste lembrei-me logo de:

"Sometimes there's so much beauty in the world I feel like I can't take it, and my heart is just going to cave in"

Reconheces? Para mim é um dos momentos de maior bezela do cinema americano... curiosamente o filme chama-se mesmo "American Beauty".

Beijinhos

Anónimo disse...

Naquele filme "In to the wild", no final, depois de uma grande jornada de despojamento progressivo, o protagonista passa de um:

"You don't need human relationships to be happy, God has placed it all around us."

para um:

"Happiness only real when shared."

Faz-te sentido?

Marycarmen

amantesmaria disse...

Senti-me muito identificado pela personagem desse filme, tal como ele também eu preciso de isolamento e proximidade com o mundo natural para me manter equilibrado. Se bem que eu me quedo por pequenas doses.

De tempos a tempos tenho mesmo de deixar tudo e todos, de me fazer bicho do mato, para me sentir mais autêntico. Mas depois volto, volto sempre porque a máxima que ele inscreve no final do filme e que tu aqui tão bem citaste faz-me todo o sentido.

Também deixo aqui uma citação, mas não do filme, esta é do Jorge Palma, mais uma vez, ainda dos tempos em que a inspiração ou a bebida o mantinham ao nível dos génios:

"(...)Somos todos escravos do que precisamos
Reduz as necessidades se queres passar bem
Que a dependência é uma besta
Que dá cabo do desejo
E a liberdade é uma maluca
Que sabe quanto vale um beijo"